terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Oníricamente dialogado entre Lobo e Raposa.

Antes, preciso dizer que não sou fã da leitura de peças. Aliás até hoje, só gostei de ler uma das algumas que li. Mas foi assim que posou-se em mim esse sonho lúcido, não pude fazer nada quanto a seu formato, também não pude na hora, havia sido arrebatado e é esse um estado que me agrada profundamente. Por fim, adaptei o dialogo da melhor maneira possível que caberia (ou que consegui) neste formato.


[...]


[Um meio lobo e uma raposa se encontram em um cercado atrás do celeiro.]


Raposa (Surpresa): Que faz aqui um bicho como você?

Meio lobo (Ainda indiferente): Só procurando novos ares.

Raposa (Interessada): Hmm... Satisfazendo-se?

Meio lobo (Ainda indiferente): De certa forma.

Raposa (Com um nervosismo ciumento): Só não coma as galinhas!

Meio lobo (Só agora notando o que o cercava): Eu realmente não aprecio as galinhas, são muito pequenas, não achas?

Raposa (Curiosa e feliz): Não. Então vais dizer que preferes...

Meio lobo (Satisfeito): Raposas.

Raposa (Pretensiosa): Hunpf! Eu chutaria cabritas, só lobos inteiros conseguem pegar raposas.

Meio lobo (Com ar de quem quer saber e já sabe): E quem dita o inteiramento dos lobos?

Raposa (Vaidosa): Ora! Quem mais poderia?

Meio lobo (Conseguindo ser sarcástico e sincero simultaneamente): É uma pena, porque és a raposa de melhor pelo e de mais forte personalidade que já vi até hoje, quando falas as galinhas não temem, mas ficam caladas.

Raposa (Esperançosa): Realmente sentes o que dizes?

Lobo Inteiro (Sincero): Do contrário não diria. Eu mordo; não ladro.

Raposa (Desesperançosa): Aposto que vês muitas raposas por aí.

Lobo Inteiro (Ciente): Vejo, mas por hora, já vi a que mais precisava ver. Adeus?

Raposa (Esperançosa e ciente): Prefiro assim. Adeus.


E seguiu o Lobo, inteiro, pleno.

E seguiu a Raposa, sentido fome de ser devorada.


[...]


Ah! Eu queria ser um fio em que as metáforas pousassem com bastante frequência.


domingo, 21 de novembro de 2010

Soneto de Vontade

Segue este soneto com misto de sensações que me ocorreram por estes tempos, não consegui externa-las de outra forma, mas quando achei entre uns papeis o "Soneto de Separação" do grande Vinícius de Moraes, a inspiração pousou em mim para não arrevoar mais. Não que esteja me comparando a ele, não estou. Mas sentimento vale seja soneto, música ou flor.


Soneto de Vontade


Nunca havia sido tão intensa e impetuosa, a vontade

Depois de ti, o vício transmutou-se em apatia

O prazer esvaía-se, essa torpe vontade, já não existia

A não ser, por tua presença indubitavelmente prazerosa.


Estar contigo, era um momento alegre, pleno, e

Desejava que não parecesse tão efêmero, seguia querendo

Mais do teu doce riso, mais da tua ferocidade dócil

Das tuas idiossincrasias, lindas, mas as vezes quase ignóbeis.


E quando veio a distancia, da tua parte para a minha

A vontade não era extinta, se eternizava, etérea

Como pintura em tela, com sentimento, pincel, e tinta.


Antes que percebesse, fugiu de mim tal sentimento, veio a solitude

Porque a distância é difícil para os amantes na juventude

Antes, traduzia-se em vontade, agora, em saudade.

Dã Alves Bronzeado

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ensaio mais que incompleto sobre um sorriso e um choro.


[Caberia aqui a imagem de um sorriso, mas não de qualquer sorriso.]



Antes, era um sorriso quase bucólico, digo quase, pois não sabia quem realmente era sua dona, e fiquei somente a admira-lo à distância, com aquela excitação que nos puxa pela barriga, daquelas que se gosta porque se gosta. Sabia eu que outro já tocava aquele sorriso, e em algum momento me pareceu injusto admira-lo com tanto furor contido, não injusto com o outro, talvez injusto com o sorriso, talvez com sua dona, talvez não, talvez eu só quisesse alguma desculpa pra não ser injusto comigo.

E o tempo passava, passava com alguma característica de rotina, e nesse passar meio desatinado não deixei de admirar outros sorrisos de formas e belezas distintas. Mas quando aquele, aquele sorriso que ao passar inundava meu ser com um misto de curiosidade, cobiça e uma ponta de esperança passava ao longe, não me continha em imaginar mil e uma possibilidades de personalidades e ideais possíveis àquela dona de pedaço de céu de pele morena. E era particularmente atormentador e estranho quando me percebia estar especulando sobre uma desconhecida, cuja unica aproximação de mim para ela, era um olhar para um sorriso.
Mas mais angustiante ainda era que ela não sorria sempre, esses sorrisos captados por meu olhar eram lances de sorte, eu só os via quando ela se sentia bem a ponto de permitir o riso, e tinham de ser observados em um exato intervalo de tempo, antes que ela levasse a mão até a boca para cobri-lo, não sabia o porque de tal gesto, mas me parecia que ela sabia que é possível também, se encantar por sorrisos, e era esse um momento raro que me fazia esquecer o mundo.
Se sucedeu que certa vez eu vagueava por aí, e a vi. Ela não sorria, nem chorava, estava num meio termo, distante, mas estava ali. Falava ao telefone, não sei o que, não sei com quem, também não me interessou a conversa, afinal, estava ali a dona do sorriso. Observei-a enquanto alguns enchiam meus ouvidos com algo que me pareciam palavras, não sei, não consegui traduzir, a minha atenção se voltava inevitavelmente à ela. Olhava de forma singular, sentava de forma singular, ouvia e falava de forma singular, chorou de forma singular, me fez sentir de forma singular...



Arrevoar

Pois eu sempre arquivei as coisas na minha mente, e perdi bastante coisa por ser teimoso. É que os mais velhos sempre me dizem: "Escreva, nossa mente é falha.", durante algum tempo eu não concordava com isso, não que eu concorde agora, é que a mim a mente sempre pareceu ser algo tão milimetricamente, até microscopicamente perfeita e inimaginavelmente poderosa e plena, que achava meio difícil acreditar que poderia existir algum defeito. Hoje em dia, eu aprendi a ceder, não que eu tenha desistido de que a mente não tem defeitos, as vezes é bom crer em alguma ficção, então talvez em alguns momentos, a falha exista. Enfim agora terei esse espaço para quando "os corvos andarem dentro do meu peito arrevoando", ou mesmo o oposto, pois a intensidade, parece a mesma dos dois lados.