segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ensaio mais que incompleto sobre um sorriso e um choro.


[Caberia aqui a imagem de um sorriso, mas não de qualquer sorriso.]



Antes, era um sorriso quase bucólico, digo quase, pois não sabia quem realmente era sua dona, e fiquei somente a admira-lo à distância, com aquela excitação que nos puxa pela barriga, daquelas que se gosta porque se gosta. Sabia eu que outro já tocava aquele sorriso, e em algum momento me pareceu injusto admira-lo com tanto furor contido, não injusto com o outro, talvez injusto com o sorriso, talvez com sua dona, talvez não, talvez eu só quisesse alguma desculpa pra não ser injusto comigo.

E o tempo passava, passava com alguma característica de rotina, e nesse passar meio desatinado não deixei de admirar outros sorrisos de formas e belezas distintas. Mas quando aquele, aquele sorriso que ao passar inundava meu ser com um misto de curiosidade, cobiça e uma ponta de esperança passava ao longe, não me continha em imaginar mil e uma possibilidades de personalidades e ideais possíveis àquela dona de pedaço de céu de pele morena. E era particularmente atormentador e estranho quando me percebia estar especulando sobre uma desconhecida, cuja unica aproximação de mim para ela, era um olhar para um sorriso.
Mas mais angustiante ainda era que ela não sorria sempre, esses sorrisos captados por meu olhar eram lances de sorte, eu só os via quando ela se sentia bem a ponto de permitir o riso, e tinham de ser observados em um exato intervalo de tempo, antes que ela levasse a mão até a boca para cobri-lo, não sabia o porque de tal gesto, mas me parecia que ela sabia que é possível também, se encantar por sorrisos, e era esse um momento raro que me fazia esquecer o mundo.
Se sucedeu que certa vez eu vagueava por aí, e a vi. Ela não sorria, nem chorava, estava num meio termo, distante, mas estava ali. Falava ao telefone, não sei o que, não sei com quem, também não me interessou a conversa, afinal, estava ali a dona do sorriso. Observei-a enquanto alguns enchiam meus ouvidos com algo que me pareciam palavras, não sei, não consegui traduzir, a minha atenção se voltava inevitavelmente à ela. Olhava de forma singular, sentava de forma singular, ouvia e falava de forma singular, chorou de forma singular, me fez sentir de forma singular...



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