sábado, 24 de dezembro de 2011

Tento.



Tento entender o que é isso, o que é esse sentimento de incompletude. As coisas que dissemos que bastariam, são totalmente reais, mas não bastam. Falta algo, há esse vão que não foi preenchido ainda, e é isso que me incomoda tanto.

Não é uma pedra no sapato, é mais como um calo.

Tento preencher isso de todas as formas, tento aceitar isso de qualquer forma, mas sempre me vejo tendo que esperar por você. A mercê da tua vontade sou como uma pena que flutua pelo vento.

Nem sempre “o talvez” torna a vida mais atraente.

Tento entender a tua parte, mas você me pede pra não tentar isso. Nunca sei o motivo ao certo, mas sempre sinto o cheiro do medo. É plausível, no curso da história poucos seres humanos não tiveram medo do desconhecido.

Porra! Cá estou eu usando a lógica outra vez.

Tento me entregar totalmente, sem lógica, só sentimento, mas de ti sinto como se isso fosse dosado. Diante das desculpas, me calo. Parece falta de vontade. Não faça isso, não deixe que um sentimento assim se transforme em um sistema de patentes.

Se um não quer, dois não [...].

Tento te mostrar que o que falta é entrega, o que falta é se permitir mais! Falta coragem de viver esse sentimento por completo! Não estamos em ritmos diferentes, nunca estivemos, somos tempo e contratempo, o que é de uma beleza incomensurável!

Resta-nos apenas afinar melhor os instrumentos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Desapego



Apeguei-me ao desapego,

Dessa forma não me perco,

Não mais me pego desatinado fora do sossego.


Não totalmente deixei de me importar,

Tão pouco modificou-se a vontade de mudar,

Porém sinto que o nó na garganta logo se extinguirá.


Tudo que desejo está logo ali, não muito além de mim.

Faz-se preciso somente, simplesmente, apreciar o festim,

Tendo sempre a consciência de que não só do meu eu dependem os fins.



Só não se desapegue demais se não quiser ficar ao léu.


sábado, 6 de agosto de 2011

Da não compreensão da vida, o talvez.


Ora, conversava eu com um ser

Que não entendia porque continuar na vida
Talvez tenha visto, mas não pude perceber a causa,
Talvez eu o fosse, talvez não só eu, mas não disse nada
Citei-lhe o bom poema de Carlos Drummond de Andrade
"Os ombros suportam o mundo", teus ombros,
Frisou-me a parte de viver a vida sem mistificação
Mistificação, mistificação... Talvez fosse preciso seu uso
Mas eu já não a utilizava, talvez tivesse compreendido a vida,
Entendido...
Não! A vida não se entende, talvez
Um dia ela se explique, talvez
seja só essa procura, eterna, por um sentido,
enfim,
talvez, "simplesmente", se viva.


Talvez relembrar seja inevitável... Não...


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Admirável Velho Reflexo


Vi o senhor de idade avançada que andava pela praia, cabisbaixo. Numa mão um cigarro quase no fim, noutra um pouco de areia que derramava por aí. Parecia entender muito bem todas as circunstâncias. Trazia na face o semblante desses que ainda procuram com afinco entender a direção para qual aponta esse estranho e tênue fio de vida, e o crucifixo já muito gasto e meio quebrado, preso ao pescoço, reformou-se em forma de exclamação e só estava ali por ter sido muito mais significativo nesta forma que na antiga.

Das coisas passadas não guardava rancor, vinha sereno demais, com passos de alguém que não tem hora pra chegar, e o olhar; o olhar perturbadoramente conformado de alguém que já viu quase tudo, e ainda assim, espera que algo novo surja em sua frente como planta que nasce sem ser semeada, planta que nasce nas frestas do gélido concreto. Olhar despreocupado de quem, a muito, se entregou ao tempo, na verdade, de quem entende o tempo. Eram agora íntimos, cúmplices, confidentes, verdadeiros melhores amigos, diferentemente de tempos atrás.

Vi quando parou, jogou o filtro em uma parábola pelo ar, e que viajou no vento turbulento que vinha da direção do mar em ressaca. De joelhos na areia era a figura mais patética e emocionante de que me lembro. Entrou no mar, hipnótico, e sumiu.

Sumiu simplesmente o reflexo temporal futuro de minha angústia.


Há quem diga que tudo é reflexo de algo.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Há.



Ele saiu do banheiro enxugando os cabelos, jogou a toalha na cadeira perto da escrivaninha e pulou do lado esquerdo da cama. Pensou um pouco sobre tudo olhando para o teto, pôs os óculos, pegou o romance que estava sobre a mesa de cabeceira, e continuou a ler. Havia parado na página 92, em que o personagem principal do livro expunha suas concordâncias sobre a não existência de um sentimento maior que une duas pessoas em uma só. Ele parou de ler, e sorriu um sorriso latino, aquilo não se encaixava ali.

Fechou o livro, e viu, quando só agora ela saia do banheiro, também enxugando os cabelos. Ela jogou a toalha na mesma cadeira em que pousada estava a outra toalha, e as duas caíram no chão. Ela percebeu o sorriso dele, e surgiu em seu rosto um, que iluminou até as mais veladas brechas daquele quarto. Ela se aproximou da cama, ele tirou os óculos e os jogou no chão junto ao livro, era intenso, ela felinamente saltou em direção a ele em uma afinação que só os dois conheciam, e houve.

Ele abriu os olhos, estava do lado direito da cama. Olhou para o lado, ela não estava lá. Olhou para dentro, ele quase não estava lá. Tentou sorrir, a esperança estava lá.



Estou sempre tentando.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"Só".


Chegaram a alameda, a noite havia sido ótima, conversaram, riram, e foram felizes falando de mil alegrias e tragédias durante aquela noite. O relógio do celular dela mostrava duas e seis da madrugada. Lamentaram-se não serem amigos do tempo. Começaram a andar, ouvia-se somente o vento e os passos, nada era dito, não com a boca, também não era preciso, um entendia o outro, a noite não fora suficientemente longa, mas já haviam falado palavras suficientes.

Ele parou no meio da alameda enquanto ela dava dois passos adiante antes de parar e virar em sua direção com o vestido esvoaçando, os olhos dele brilharam quando isso aconteceu, mas ela nada percebeu distraída pela dúvida. Deu um paço na direção dele, e em perfeita sincronia ele deu um paço para trás, sem tom de brincadeira ele deu um paço na direção dela, que desta vez deu um paço para trás. E seguiu-se uma espécie de tango a dois pasos de distância num inaldível ritmo extasiante, sem terno, rosa, ou vestido vermelho. E continuaram assim, até o momento em que ambos deram um paço muito maior para frente.

E estavam ali, um tão perto do outro que nem a física pode explicar como não se tocaram, o reflexo do olhar dela de encontro com o reflexo do olhar dele, os rostos tão próximos que sentiam como se compartilhassem uma única respiração, não sentiam frio na barriga, o calor ocupava-lhes todo o corpo e alma, e estavam claramente instigados por algo que só os amantes entendem, e "só".



Eu nunca entendi muito bem.


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Conheci uma metáfora.


Conheci uma metáfora, dessas que sabem que são metáforas, e usam e abusam de si mesmas sem dó, dos outros. Quero que entenda que não estou reclamando, sou apaixonado por metáforas, elas é que não são apaixonadas por mim, aliás, apaixonam-se por raríssimas pessoas, mas neste caso, elas são a minha raridade, e por isso, às vezes, sofro.

E essa, essa da qual eu falava inicialmente, não é diferente. Ela também usa de todas as suas artimanhas nefelibatas desde passar ao seu lado de modo indiferente, até pequenos toques em sua face que te levam ao auge de algum sentimento utópico, e eu não sei, mas sinto como se isso pudesse me encantar mesmo que eu fosse a mais gélida pedra, mesmo que o meu coração não sentisse nem o próprio sangue que pulsa a vida dentro de si, mesmo que a esperança fosse a única coisa que me restasse. Encanto-me, mas metáforas só se apaixonam por outras metáforas, e eu não sou metáfora de nada, e por mais nada, além das metáforas, gostaria de ser.


- Desisto das metáforas.