sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Há.



Ele saiu do banheiro enxugando os cabelos, jogou a toalha na cadeira perto da escrivaninha e pulou do lado esquerdo da cama. Pensou um pouco sobre tudo olhando para o teto, pôs os óculos, pegou o romance que estava sobre a mesa de cabeceira, e continuou a ler. Havia parado na página 92, em que o personagem principal do livro expunha suas concordâncias sobre a não existência de um sentimento maior que une duas pessoas em uma só. Ele parou de ler, e sorriu um sorriso latino, aquilo não se encaixava ali.

Fechou o livro, e viu, quando só agora ela saia do banheiro, também enxugando os cabelos. Ela jogou a toalha na mesma cadeira em que pousada estava a outra toalha, e as duas caíram no chão. Ela percebeu o sorriso dele, e surgiu em seu rosto um, que iluminou até as mais veladas brechas daquele quarto. Ela se aproximou da cama, ele tirou os óculos e os jogou no chão junto ao livro, era intenso, ela felinamente saltou em direção a ele em uma afinação que só os dois conheciam, e houve.

Ele abriu os olhos, estava do lado direito da cama. Olhou para o lado, ela não estava lá. Olhou para dentro, ele quase não estava lá. Tentou sorrir, a esperança estava lá.



Estou sempre tentando.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"Só".


Chegaram a alameda, a noite havia sido ótima, conversaram, riram, e foram felizes falando de mil alegrias e tragédias durante aquela noite. O relógio do celular dela mostrava duas e seis da madrugada. Lamentaram-se não serem amigos do tempo. Começaram a andar, ouvia-se somente o vento e os passos, nada era dito, não com a boca, também não era preciso, um entendia o outro, a noite não fora suficientemente longa, mas já haviam falado palavras suficientes.

Ele parou no meio da alameda enquanto ela dava dois passos adiante antes de parar e virar em sua direção com o vestido esvoaçando, os olhos dele brilharam quando isso aconteceu, mas ela nada percebeu distraída pela dúvida. Deu um paço na direção dele, e em perfeita sincronia ele deu um paço para trás, sem tom de brincadeira ele deu um paço na direção dela, que desta vez deu um paço para trás. E seguiu-se uma espécie de tango a dois pasos de distância num inaldível ritmo extasiante, sem terno, rosa, ou vestido vermelho. E continuaram assim, até o momento em que ambos deram um paço muito maior para frente.

E estavam ali, um tão perto do outro que nem a física pode explicar como não se tocaram, o reflexo do olhar dela de encontro com o reflexo do olhar dele, os rostos tão próximos que sentiam como se compartilhassem uma única respiração, não sentiam frio na barriga, o calor ocupava-lhes todo o corpo e alma, e estavam claramente instigados por algo que só os amantes entendem, e "só".



Eu nunca entendi muito bem.